Questionamentos da arte da dialética timorense


Como ensinar um timorense a argumentar em língua portuguesa? É muito difícil, senão impossível de responder a um questionamento desses em curto prazo. Afinal a simples contextualização de um questionamento em língua portuguesa leva ao insucesso do processo ensino-aprendizagem. Então como argumentar em um idioma que você ou quem fala com você não tem o devido domínio? E se nos dias de hoje fosse decretado que todas as aulas no Brasil e Portugal deveriam ser dadas em inglês, quantos professores desses dois países conseguiriam continuar no cargo?
Os alunos timorenses possuem uma variedade de dificuldades com a língua portuguesa que nos faz pensar porque eles escolheram falar esse idioma. Se é difícil aprender em língua portuguesa, então deve ser muito pior ensinar em um idioma que não se domina. A lei timorense diz que o ensino deve ser em português. Como? Se eles não falam português.
O senso comum está repleto de crenças equivocadas. Achar que a incapacidade de aprendizagem da língua portuguesa tem a ver com atraso intelectual é só mais um desses equívocos.
O povo timorense em uma conversa na rua muda de idioma como quem muda de roupa. Para ver isso basta ir ao supermercado ao lado da residência do primeiro-ministro. Os garotos que vendem frutas olham para você, e acreditam que você é de determinado pais, então oferecem suas frutas no seu provável idioma: inglês, português, bahasa, tétun...
É muito triste saber que existem pessoas que reforçam os equívocos do senso comum. Quem dos malaes presentes em terras maubere que tem tamanha capacidade de trocar idioma tão rápido?
Não sei qual a pior atitude, o timorense falar a você que não compreende português e já falando em língua portuguesa ou algum de nos acreditar que isso é verdade, mas certamente muitos colegas professores se deparam com algumas delas, no dia a dia da sala de aula ou do convívio com os timorenses.
Se o Timor-Leste é lusófono, então porque tão poucos falam o idioma? Quando a língua portuguesa deixará de ser exclusiva dos trintões e passará a fazer parte dos jovens timorenses? O que devemos fazer? Tem-se a impressão que nosso trabalho não está atingindo seus objetivos. E pior, a cooperação brasileira em educação dará adeus a terras de Xanana no ano que vem. Em julho deve chegar o ultimo e derradeiro grupo de professores brasileiros. Sobreviverá em Timor-Leste à língua portuguesa se não mudarmos o foco do trabalho urgentemente? E mudar como afinal?

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