MALAE! MALAE! MALAE... ESPERA MALAE!




Como ocidental que sou à primeira vista em minha chegada ao Timor-Leste, há mais ou menos um ano atrás, me assustei um pouco pelo modo como os timorenses se reportam a nós estrangeiros: Malae (gringo, em língua nativa tétun), tanto que tem até uma piada entre os internacionais, que diz que: reza a lenda que uma criança timorense aprende a falar malae antes de aprender a falar mamãe ou papai, e depois que cresce acrescenta a palavra “espera”. É comum você ser chamado de malae pelas crianças no caminho de casa, falam e apontam para você. Não que isso seja ofensivo, é apenas o costume local que muitas vezes parece nos deixar um tanto quanto confusos, não sei se esta seria realmente a palavra... Mas, certo dia ao sair de minha residência no bairro de Tuana Laran, em Dili, capital timorense, e no caminho para o Instituto Nacional de Formação Profissional e Contínua, no bairro vizinho, o Balide, onde uma parte da cooperação brasileira dá aulas aos professores timorenses, eis que subitamente surge uma mulher, eu que vinha em baixa velocidade em minha moto, pois as ruas aqui são um tanto quanto estreitas, uma senhora, que estava limpando um túmulo que possui em frente a sua casa, coisa muito comum por aqui por sinal, e grita bem alto: BOM DIA MALAE! Aquilo me pareceu constrangedor. Fiquei pensativo e por impulso, respondi baixinho, bom dia senhora. O caminho ao trabalho de repente me pareceu bem maior, e uma paranóia me veio à cabeça, será que não estou cumprimentando as pessoas ou estou cumprimentando demais? Pareceria trágico se não fosse cômico, eu do outro lado do mundo, me perder em pensamentos desse tipo.
E quando você sai com pressa em Dili, aí é pior. No trânsito daqui andam carros de marcas que no Brasil seriam motivo de orgulho a qualquer proprietário. Afinal dirigir um Honda, um Mitsubishi ou outra marca asiática, no ocidente é sinônimo de status. Mas aqui não é bem assim. Esses carros em Dili são usados como taxis, e normalmente estão caindo aos pedaços, com raras exceções. E estes taxis raramente ultrapassam os 30 km por hora. Pressa é uma coisa que não existe por aqui. Se você reclama e tenta fazer as coisas irem ao seu tempo e não no tempo dos locais, logo você ouve a frase que nem todos internacionais gostam de ouvir: ESPERA MALAE!
Pois bem, sai de casa fui chamado de malae pelas crianças, ouvi um espera malae e por fim chego para trabalhar. A língua portuguesa por si só já é difícil de aprender mesmo para nós, brasileiros, nativos lusófonos, agora imagina um jeito diferente, e a meu ver, não errado de se expressar. Eu como professor explico um determinado assunto e olho para a turma e pergunto: VOCÊS NÃO ESTÃO ENTENDO? Resposta dos alunos timorenses: SIM! O sim aqui é o que equivale ao não no Brasil. Que coisa, eu sempre falei errado! Porque eu respondia uma indagação dessas com NÃO? Ora a resposta é sim, nós não estamos entendendo. Saber perguntar é alma do negócio. Pode crer. Espera malae! Já acabou.

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