Avanços Genéticos sobre a AIDS

Descoberta genética poderá levar a novos tratamentos e vacina contra Aids

Pequena porcentagem da população humana é naturalmente resistente ao HIV

Cheryl Pellerin
Da equipe de redação do USINFO

Washington – Um grupo internacional de cientistas colaborou em estudo que encontrou razões genéticas para a resistência natural de uma pequena porcentagem da população ao HIV, o vírus causador da Aids.

Conforme esperam os pesquisadores − liderados pelo professor de microbiologia e genética molecular da Universidade Duke, na Carolina do Norte, David Goldstein −, suas descobertas deverão ajudar nas pesquisas de tratamentos contra a Aids e de uma vacina que poderá funcionar como reforço aos efeitos dos genes aparentemente protetores.

“A vulnerabilidade das pessoas à Aids realmente varia”, disse Goldstein, que também é diretor do Instituto Duke de Política e Ciências Genômicas, durante entrevista ao USINFO, em 23 de julho.

“Apesar de se exporem repetidamente e em elevado grau, algumas pessoas não serão infectadas", declarou ele. “E, mesmo quando se contaminam, seus sistemas imunológicos são capazes de controlar muito bem o vírus. Até onde sabemos, talvez pelo menos 10% das pessoas que são infectadas não fiquem doentes.”

Mas a maioria das pessoas expostas ao HIV evoluem para a Aids. Segundo a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, mais de 64,9 milhões de pessoas foram infectadas pelo HIV desde o início da pandemia, nos anos 1980, e, conforme estimativas do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids, 39,5 milhões de pessoas no mundo todo viviam com a doença em 2006.

RESISTÊNCIA NATURAL

O trabalho, publicado em 19 de julho na edição on-line da revista Science, é o primeiro grande estudo realizado em regime de colaboração, com a maioria das descobertas vindas do Centro de Imunologia de Vacinas contra HIV/Aids (Chavi), financiado pelo Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, parte dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA.

O Chavi é uma associação de pesquisadores destas instituições: Universidade Duke, Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, Universidade do Alabama em Birmingham, Escola de Medicina de Harvard em Massachusetts e Universidade de Oxford no Reino Unido.

“No Chavi”, informou Goldstein, “criamos um consórcio de pesquisadores chamado EuroChavi, que trabalhou em conjunto para formar um grupo de sujeitos para análise.”

Os pesquisadores – da Suíça, Itália, Austrália, Dinamarca, Espanha e do Reino Unido – analisaram os históricos de 30 mil pacientes para encontrar 486 com características específicas.

“Precisávamos saber quando tinham sido infectados, dentro de uma janela de dois anos”, disse Goldstein, “e ter uma estimativa laboratorial de suas cargas virais durante o período em que não foram tratados”. Carga viral é o número de cópias ou partículas do vírus encontradas em um mililitro de sangue do paciente.

Quando alguém é infectado por HIV, a carga viral sobe a um nível alto antes de o sistema imunológico derrubá-la para um nível estável, denominado ponto de ajuste. Algumas pessoas podem baixar o vírus para níveis indetectáveis; as que não conseguem controlá-lo evoluem rapidamente para a Aids.

Para descobrir porque algumas pessoas podem levar os vírus a níveis tão baixos, Goldstein e sua equipe se concentraram no ponto de ajuste da carga viral. O que, indagavam os pesquisadores, controla a quantidade de vírus presente no ponto de ajuste?

CHIPS E SNIPS

Em busca de resposta a essa pergunta para cada um dos 486 sujeitos do estudo, os cientistas usaram uma ferramenta genética − microanálise com um “chip” ou lâmina do tamanho de um cartão de crédito que analisa simultaneamente 550 mil dos 3 bilhões de bases de um genoma – para verificar quais das bases, denominadas polimorfismos de nucleotídeo único ou SNPs (pronuncia-se “snips”), podem influenciar a característica da carga viral.

Os pesquisadores colheram DNA dos sujeitos do estudo, prepararam-no para o teste e colocaram cada amostra sobre um chip. Os 550 mil SNPs representam o número estimado de 10 milhões de SNPs do genoma, que varia de pessoa para pessoa.

No decorrer de 18 meses, a varredura de genomas encontrou três SNPs fortemente associados com o ponto de ajuste da carga viral ou com o avanço da doença. O SNP mais pertinente para uma possível vacina está próximo de um gene imunológico humano denominado HLA-C. Considera-se que as pessoas com essa variante se beneficiam mais do produto potencialmente protetor do gene do que as que não a possuem.

Os genes HLA estão envolvidos na apresentação de partículas de proteínas estranhas na superfície das células do corpo para fazer com que o sistema imunológico reconheça que a célula está infectada e deve ser destruída.

Ninguém sabia que o gene identificado “era capaz de agir dessa forma para marcar células infectadas por HIV para destruição”, explicou Goldstein. E o HIV não interfere no gene “o que pode significar que uma estratégia vacinal capaz de atuar por meio desse mecanismo poderá ser um ponto vulnerável para o HIV”.

“Não sabemos se vai funcionar ou não”, acrescentou Goldstein, “mas é uma possibilidade que não seria cogitada antes desses resultados”.

As próximas etapas incluem a expansão da análise genética com amostragens mais amplas para encontrar outros determinantes genéticos, a verificação de resistência à infecção e a realização de trabalho funcional para entender melhor a forma como as diferenças genéticas produzem seus efeitos.

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