QUELÔNIOS AMAZÔNICOS
Importância dos quelônios
Os quelônios tem desempenhado, historicamente, um papel importante como recurso natural. Os índios foram os primeiros consumidores de sua carne, ovos, gordura e vísceras. O costume indígena foi logo estendido às populações que vivem nas margens dos rios e lagos amazônicos, tornando-se um hábito alimentar, daí ser chamado o "boi da amazônia"; contudo, eles ainda mantinham as populações em equilíbrio.
O homem civilizado foi atraído pela possibilidade de comércio da carne e principalmente, pelo valor da manteiga dos ovos, muito procurada nos mercados nacional e internacional. Existem documentos históricos que relata a intensa predação sofrida pelos quelônios, sendo estimado que a destruição de ovos no período de 1700 a 1903 foi de 214 milhões, tendo as atividades de preparo de óleo e de manteiga extremamente organizadas. As carapaças eram usadas como bacias ou instrumentos agrícolas, e também queimadas para obtenção de cinzas que, quando misturadas com argila, eram usadas na fabricação de potes que transportavam a manteiga e óleos preparados. A pele do pescoço era usada como algibeira de tabaco ou para fabricação de tamborins; a gordura, por sua vez, era misturada com resina e usada para calafetar barcos, enquanto o óleo era utilizado na alimentação e iluminação de ruas.
Portanto, a utilização de quelônios tomou proporções de comércio potencial e lucrativo, a ponto de algumas espécies correrem risco de extinção. Medidas visando à conservação e à redução da atividade predatória foram oficializadas em 1967, com a Lei 5.197/67, que dispõe sobre a proteção à fauna. Na década de 70, os quelônios, em especial as espécies Podocnemis expansa (tartaruga-da-amazônia) e Podocnemis unifilis (tracajá), estavam indicados para compor a lista de animais em processo de extinção. Graças a intervenção do extinto IBDF, hoje IBAMA, foi criado em 1979 o Projeto Quelônios da Amazônia, objetivando a proteção e manejo reprodutivo dos quelônios e redução da mortalidade por predação e outros fatores ambientais.
Áreas de atuação
O Projeto Quelônios da Amazônia é executado pelo RAN e atua nas áreas de ocorrência natural das tartarugas, nos Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Goiás, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, coordenando 16 bases avançadas e mantendo sob proteção 115 áreas de reprodução distribuídas nos rios Amazonas, Tapajós, Trombetas, Purus, Xingu, Juruá, Branco, Araguaia, Javaés e Rio das Mortes, entre outros.
Espécies manejadas
Dentre as 16 espécies de quelônios que ocorrem na Região Amazônica, destacam-se 06 espécies da Família Podocnemidae e o1 da Família Kinosternidae, que são manejadas diretamente, tidas como de utilização mais freqüente na alimentação das comunidades ribeirinhas:
Estratégias:
- Proteger os principais sítios de reprodução de quelônios
- Garantir os estoques populacionais de quelônios através das atividades de proteção e manejo, em seu habitat natural.
- Desenvolver e apoiar pesquisas referentes à biologia, ecologia e genética das diferentes espécies de quelônios
- Garantir o repasse de filhotes ao sistema de criação comercial
- Desenvolver a educação ambiental, estimular a sensibilização e conscientização das comunidades, através do conhecimento e do respeito à exploração racional dos recursos naturais.
- Fortalecer o manejo e a proteção das espécies, inserindo as instituições de pesquisa, iniciativa privada e as organizações sociais, no processo de co-gestão.
Resultados do manejo na natureza
Durante 23 anos de atividades, o Projeto Quelônios já devolveu aos rios amazônicos cerca de 35 milhões de filhotes das diferentes espécies de quelônios, principalmente da Tartaruga da Amazônia, do tracajá e do pitiú ou iaçá, proporcionando o repovoamento e a recuperação das populações naturais dessas espécies. Desde então, o RAN tem se consolidado como uma das mais importantes iniciativas ecológicas e de cunho social do Brasil, pois tem garantido não só a sobrevivência das várias espécies de tartarugas, como também vem preservando a cultura regional e oferecendo uma alternativa econômica para a região.
Resultados da criação em cativeiro
Os resultados dos trabalhos de proteção e manejo na natureza propiciaram a recuperação dos estoques naturais e assim, foi possível promover a criação comercial da tartaruga e do tracajá. Na atualidade existem 119 criadouros comerciais com mais de um milhão de animais em sistema de confinamento e cerca de 100 mil em fase de abate e comercialização.
Pesquisas desenvolvidas
O RAN tem estimulado pesquisas básicas e aplicadas, voltadas ao conhecimento da ecologia, biologia, reprodução, nutrição, dinâmica populacional e genética de populações, para subsidiar os sistemas de manejo in-situ e ex-situ e bem como gerar tecnologias de produção.