AIDS: Verdades e mentiras
Muita coisa já se disse sobre a Aids, mas nem todas têm fundamento. Veja alguns mitos comuns
Beijo na boca transmite Aids
Mentira Não há evidências concretas que provem que a saliva seja um meio transmissor do HIV. A saliva contém substâncias, como enzimas e anticorpos, que eliminam a pouca quantidade de vírus que se encontra na região da boca
Mulheres são mais vulneráveis ao vírus do que homens
Verdade A mulher tem um risco maior de contrair HIV do parceiro do que o contrário. A mulher recebe o sêmen do homem e tem uma mucosa vaginal (tecido que reveste a região) maior. A mucosa feminina também é mais absorvente do que a do homem. O risco de uma mulher contrair o vírus é quatro vezes maior que no homem durante uma relação heterossexual
O vírus da Aids muda tanto que nunca se poderá obter uma vacina
Mentira Isso apenas dificulta a fabricação de uma vacina. O truque é usar como alvo do imunizante uma parte do vírus que não muda. Há outras estratégias que estão sendo usadas, como a fabricação de anticorpos que inibem o receptor CCR5, característica que tem sido observada em pessoas resistentes ao HIV
Quem doa sangue corre o risco de se contaminar com o HIV
Mentira Não há possibilidade de uma pessoa contrair o HIV durante a doação de sangue. O risco de doar é o mesmo e retirar amostras de sangue para um exame clínico. Se o material usado durante o procedimento for estéril, não há perigo. Pessoas que recebem transfusão podem se contaminar com sangue infectado, caso o material não tenha sido testado pelos bancos de sangue
Pode demorar anos até a pessoa perceber que foi contaminada pelo vírus da Aids
Verdade Uma pessoa infectada pelo HIV-1 pode levar de 9 a 11 anos para desenvolver Aids. Felizmente, hoje, com o grau de informação, as pessoas são testadas e descobrem que são portadoras pouco depois de se infectarem. O HIV-2, encontrado principalmente na África e em alguns países da Europa, leva cerca de 20 anos para causar o colapso do sistema de defesa e desenvolver Aids
Existe a possibilidade de o HIV não ser a causa da Aids
Mentira A hipótese foi defendida pelo cientista Peter Duesberg, no começo dos anos 90, quando se sabia pouco sobre a doença. Hoje, já existem até fotos do HIV destruindo as células e fabricando novos vírus. Também já se pode contar o HIV no sangue e associá-lo ao progresso da infecção. São provas concretas e inquestionáveis de que o HIV é a causa da epidemia
Algumas pessoas são resistentes ao vírus
Verdade Há pessoas que não se infectam, mesmo quando são expostas ao HIV. Descobriu-se que isso acontece por não possuírem um receptor (proteína) chamado CCR5, um tipo de "fechadura" que fica na superfície das células de defesa. O HIV tem a chave para essa "fechadura" com a qual costuma entrar na célula. Sem o CCR5, ele "bate com o nariz na porta" e não dá início à infecção. Há outras razões que podem explicar a resistência ao vírus, mas ainda precisam ser mais bem estudadas
Não existe Aids na África. O problema lá é causado pela fome, pobreza e outras doenças endêmicas
Mentira A fome, a pobreza e doenças endêmicas apenas ampliaram o grau da epidemia de Aids que afeta a África. Não são a causa da epidemia. Tanto que a expectativa de vida depois da Aids caiu drasticamente.O mesmo não foi observado em situações de fome, pobreza e de doenças endêmicas que há vários anos atinge aquele continente
Animais não são contaminados pelo vírus
Mentira Há um tipo de vírus, uma cepa do HIV-1, que é encontrado em macacos Pantroglodytes troglodytes. Além do SIV, esses macacos também têm o HIV-1, porém não é o mesmo que infecta o homem. Imagina-se que o macaco passou para o homem o HIV-1 modificado, que evoluiu e assumiu a sua forma atual. Os macacos, não entanto, não desenvolvem a doença
Consultores:
Artur Kalichman- coordenador do Programa Estadual de DST-Aids de São Paulo
Mauro Schechter- chefe do Laboratório de Pesquisa de Aids no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da UFRJ
Ricardo Sobhie Diaz - diretor do Laboratório de Retrovirologia da Universidade Federal de São Paulo