SISTEMA SOLAR COVER?
É como se o Sistema Solar tivesse tomado uma pílula de nanicolina. Um grupo internacional de astrônomos acaba de encontrar um sistema planetário que parece uma fotocópia do nosso — só que em escala reduzida.
Concepção artística do sistema planetário recém-descoberto
A estrela e seus planetas estão localizados a pouco menos de 5.000 anos-luz da Terra (um ano-luz é a distância que a luz percorre em um ano, cerca de 9,5 trilhões de quilômetros). Ela possui cerca de 50% da massa do nosso Sol; já quanto a eles, dois foram detectados, e suas configurações lembram muito as de Júpiter e Saturno, os dois maiores corpos planetários do nosso sistema.
Além do tamanho parecido, suas órbitas estão além da chamada “linha do gelo”, região a partir do qual compostos como água e amônia se solidificam — exatamente como Júpiter e Saturno. E a distância entre eles é bem proporcional à que se vê entre os dois gigantes do Sistema Solar. Resumo da ópera: o grupo encabeçado por Scott Gaudi, da Universidade Estadual de Ohio, nos EUA, aposta ter encontrado a mais perfeita réplica do Sistema Solar até hoje observada.
Ei, mas peraí. Todo mundo sabe (ou deveria saber) que o nosso Sol tem oito planetas. Pelo que os cientistas puderam observar, esses astros ao redor da estrela OGLE-2006-BLG-109 são apenas dois. Que raio de réplica é essa?
“Para esse caso particular, até onde sabemos, o sistema que detectamos pode ter planetas rochosos mais próximos da estrela, como a nossa Terra”, disse Gaudi ao G1. “Nós não teríamos detectado esses planetas, não tínhamos a sensibilidade para planetas próximos e rochosos, porque eles seriam pequenos demais. Mas podemos dizer que, assim como em nosso Sistema Solar, não há planetas gigantes na região quente e interna desse sistema. Então, esse sistema poderia ser realmente um análogo ao Sistema Solar.”
Pode parecer, mas isso não é pouca coisa. Até hoje, dos mais de 200 planetas extra-solares descobertos desde 1995, a imensa maioria consiste em planetas muito maiores do que Júpiter e orbitando muito próximos de suas estrelas-mãe. Isso porque a principal técnica para descobrir esses mundos envolve a observação do bamboleio das estrelas causado por potenciais planetas ao seu redor — e quanto mais próximo e maior for o planeta, mais fácil de detectar.
O grupo internacional a que Gaudi pertence usou uma outra técnica, que não privilegia astros grandes e próximos da estrela. Em vez disso, ela usa um efeito previsto pela teoria da relatividade para detectar esses planetas. O segredo consiste em observar o anel de Einstein.
Sério. O negócio é o seguinte: quando uma estrela passa na frente de outra, com relação ao ponto de vista de um observador na Terra, a estrela da frente distorce os raios de luz da estrela de trás — produzindo o que os cientistas chamam de “microlente gravitacional”. Pelo padrão formado por essa lente, os pesquisadores podem deduzir a existência de planetas ao redor da estrela mais próxima.
A boa notícia é que, em coisa de duas semanas, é possível identificar a existência de planetas. A má é que não é sempre que aquela estrela vai estar posicionada à frente de outra — depois de umas duas semanas de “trânsito”, aquele sistema planetário volta à “escuridão”, e não há telescópio hoje que possa observar os planetas recém-descobertos.
Isso não pode ser triste para os pesquisadores, ter de abandonar seus planetas recém-descobertos? “Não é tão frustrante pelo fato de estarmos encontrando esses sistemas fascinantes. A força das microlentes não está no estudo detalhado das ‘personalidades’ dos sistemas planetários, mas sim em fazer um ‘censo’ da população como um todo”, diz Gaudi. “E, de algum modo, nem é necessário ’seguir’ esse sistema para obter informações adicionais; nós aprendemos mais sobre ele nas duas semanas em que ele estava agindo como uma microlente do que aprendemos sobre muitos dos sistemas planetários que estão 30 vezes mais próximos e são milhares de vezes mais brilhantes!”
Os dois novos planetas, com massas equivalentes a 71% e 27% da massa de Júpiter, tiveram sua descoberta reportada na última edição da revista científica “Science”. Mas os pesquisadores não descansarão enquanto não encontrarem planetas como a Terra em sistemas planetários parecidos com o nosso.
“Continuamos a procurar (e achar!) novos planetas. Muitos desses planetas são muito estranhos. Esperamos encontrar um planeta gelado com a massa da Terra, e se esses planetas forem comuns, devemos encontrar um logo.”