COTIDIANO TIMORENSE


Como mudar hábitos culturais em nome da conservação do meio ambiente?

Dili, a capital de Timor-Leste vive um período de reconstrução, onde a população do país convive com os ditos Malae, gringo em língua nativa, profissionais oriundos dos mais diferentes cantos do mundo, desde o Uruguai na América do Sul até os mais distantes países da África. Aliado ao tradicional darwinismo social dos europeus aqui presentes, e ainda sobre uma forte influência religiosa.
Em meio a este contexto, o que se observa nas ruas desta cidade são jovens buscando uma identidade social, que os faz usar símbolos que nem mesmo eles sabem o seu significado. Certo dia, ao me dirigir à praia do cristo-rei em minha moto, passou por mim um jovem timorense típico, moreno como a grande maioria do povo maubere, e que usava uma calça jeans que aos olhos de um ocidental parecem um tanto quanto cheias de detalhes, e uma camisa que mesclava o ídolo argentino, Ernesto Che Guevara, com uma grande suástica nazista, que em nada lembrava o símbolo hindu. Mas isso parece pouco importar a esses jovens, é somente um povo em busca de um espaço entre os asiáticos, apesar de sua aparência não lembrar em nenhum momento um oriental, e sim um aborígene australiano.
À medida que se insere no mundo globalizado e aumenta o consumo de produtos industrializados, o Timor-Leste vem absorvendo hábitos que o mundo condena, como por exemplo, queimar todo tipo de lixo nos quintais e nos esgotos. Reciclagem ou reaproveitamento não são palavras muito difundidas por aqui, uma pena. Mas o pior é ver onde grande parte da população cultiva seus vegetais consumidos diariamente, nos esgotos. Mesmos esgotos que jovens trabalhadores retiram a água para lavar carros como os taxis, que os expõem à contaminação pelos mais diferentes microrganismos. Observo essas cenas e tento crer que esses seres humanos já possuem imunidade a algumas doenças.
Agora imagine uma praia paradisíaca cercada por restaurantes e boates, assim é a praia de areia branca, em Dili, mas, ao chegar perto, passeando entre os freqüentadores do lugar, é comum observar animais como bodes e carneiros, que ali mesmo fazem suas necessidades biológicas, que a própria natureza se encarrega de levar para a enseada.
A ilha do crocodilo tem que conviver com tudo isso. Agora nesta época, as montanhas estão cobertas de verde, mas à medida que muda a estação, a população nativa busca na vegetação silvestre sua fonte de renda, na venda de madeira e carvão vegetal. Em pouco tempo não há mais nada nas montanhas, que ao longe lembram um crocodilo, símbolo do país, quando chega o meio do ano, o solo fica seco e árido, a vegetação praticamente desaparece a espera das chuvas para ocorrer de novo a renovação da vida.
Este é o Timor-Leste, um país que corre contra o tempo, em busca de um lugar ao sol do oriente.

Erivelto Rodrigues, brasileiro, membro da cooperação internacional Brasil/Timor-Leste, professor da Universidade Nacional Timor Lorosae.

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