VAMOS FALAR DE AMOR?

por Fábio Castilhos
Professor Mestre em Linguística

“Vamos falar de amor?”, convidou-me Sérgio Ávila, ainda em março, ao lado de Dico. Era estranho estar ali, diante daquela dupla que parecia tão diferente. O enérgico Sérgio gesticulava enquanto o acabrunhado Dico me fitava pelo canto dos olhos. Nunca estivéramos os três reunidos. No entanto, ali nasceu o Amor. Sou professor e, por isso, meio metódico. Não consigo processar todas as ideias de uma vez só. E lá, elas borbulhavam. Entre as alegorias de 2009 prestes a serem desmontadas, começou a surgir o carnaval de 2010.

Falar de Amor é perigoso, pois sabíamos que não atenderíamos a todos os pontos de vista, a todas as opiniões. Em conversa, entendemos que não queríamos contar histórias de amor, mas a História do Amor, desde o mundo criança até o mundo dos Homens. Surgia um tema enredo, e uma amizade. Contudo, não surgia o brilho no olhar de nenhum dos três. O Dico foi claro ao dizer que não queria ficar fazendo casaizinhos em todas as alas. O Sérgio mostrou que não dava só para encher de coraçõezinhos nos carros. Eu pensava que não tinha como falar de amor sem citar as histórias consagradas.

Ficamos ali em silêncio por um tempo. Tempo o suficiente para a inspiração literalmente passar por ali. Apenas ouvimos uma voz feminina chamar “vem com a mãe, filho”. Não vimos quem disse, ou para quem foi dita a frase, mas foi bendita a hora. Olhamo-nos e tivemos certeza de que o tema estava pronto.

Não há amor verdadeiro que não resulte em família, e não há família que não resulte em amor. Família a gente escolhe, sim. Fazemos nossos pais a nossa imagem, e somos invariavelmente semelhantes a nossos desejos de irmãos e amigos. Família é tios e tias, primos e primas, próximos e distantes. Amigos.

A família, de uma maneira ou de outra, é o ambiente onde vivemos e lá espalhamos nossa forma de ver o mundo. O Amor com o qual queremos ver o mundo. E o nosso mundo é o Carnaval. Não o carnaval de fevereiro, nem o carnaval da televisão. O nosso mundo é o Carnaval do Ano Inteiro. Somos de ficar procurando notícias com amigos, de vasculhar internet, de ouvir samba enredo no frio do inverno e lembrar como aquele desfile foi lindo.

Encontramos o brilho nos olhos um do outro naquela tarde de março. Encontramos a História de Amor que queríamos contar. Falar do amor da Família Imperiana pelo Carnaval era a nossa inspiração maior e a certeza de que ainda que falassemos as línguas dos homens e dos anjos, sem Amor, nada seríamos.