CONHECIMENTO GENÉTICO

Rafael Oblinski

Avanços e riscos do saber genético

Em seu livro "A loja do corpo" Andrew Kimbrell produziu uma síntese admirável, sobre os delicados problemas gerados pelos avanços genéticos: "a engenharia genética e suas implicações conduziram-nos às mais graves questões com que a humanidade já se deparou. Que é a vida? Que significa ser um humano? Os cientistas têm o direito de agir como co-gerentes da evolução? Como definir a morte e decidir o porquê de a vida valer a pena de ser vivida? Estamos prontos para aceitar um 'supermercado' de órgãos e tecidos humanos, de genes, ou até de crianças? "As pesquisas científicas sobre diagnóstico e tratamento, no campo da genética, afetam hoje o projeto de vida de todos os seres vivos. A extraordinária possibilidade criada para o homem de transformar seu semelhante coloca sérios dilemas para a nossa sociedade. Os países industrializados começam a adotar legislações visando impor limites à prática clinica, ou até a certas pesquisas, tentando garantir o respeito à dignidade humana. O problema maior não está na realização das pesquisas em si, mas na aplicação prática dos resultados alcançados. O conhecimento do mapa genético humano já realizado permite a identificação dos genes causadores das doenças mais comuns, possibilitando a criação de intervenções específicas. A grande preocupação ética refere-se aos tratamentos que modificam o patrimônio genético, originando alterações que se transmitirão de uma geração a outra.Os riscos são grandes, mas as perspectivas criadas são altamente animadoras. Abriram-se as portas da prevenção para um imenso número de enfermidades, tidas até a muito pouco tempo como fatais. Cresceram infinitamente as possibilidades de cura para a debites, múltiplas formas de câncer, certas doenças cardiovasculares e neuropsiquiátricas. Deixou de ser um sonho imaginar que o ser humano possa desfrutar de uma vida saudável, até idades bem avançadas. Podemos nos beneficiar, a curtíssimo prazo, de uma medicina personalizada, barata e muito mais eficiente. O lado triste dessa história é a identificação de probabilidade ou certeza, de doença genética, para enfermidades ainda sem solução preventiva. Porque essa situação não somente amplia o medo dos que delas padecem, como pode ensejar discriminações, de todos os tipos. A sociedade humana conheceu avanços científicos que revolucionaram todas as civilizações. E essa experiência histórica recomenda que se reprove tanto a tecnofobia quanto a sacralização da tecnologia ou seu uso irresponsável.

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