INTRODUÇÃO AO ENSINO DA METODOLOGIA DA CIÊNCIA

FICHAMENTO

DEMO, Pedro. Introdução à metodologia da ciência. São Paulo: Atlas, 1985. pp. 13-28

Erivelto Rodrigues Teixeira
Mestrando – Matrícula: 2110284

O texto aborda a temática metodologia da ciência em uma análise das particularidades das ciências humanas e sociais. Com enfoque na metodologia como uma preocupação instrumental e na pesquisa como uma atividade básica da ciência.

Considerações Introdutórias

O texto não enfoca as ciências exatas e naturais, entretanto trata de construção científica e suas divergências metodológicas com as ciências humanas e sociais.
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As divergências são: usar os métodos das ciências exatas e naturais e/ou utilizar um método próprio para o fenômeno humano.
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O autor defende uma posição intermediária, pois muito do que se diz dos objetos naturais vale também para os objetos humanos, mas o fenômeno humano possui componentes irredutíveis que exigem uma metodologia espe-cífica.
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As ciências sociais entendem que seu objeto é socialmente condicionado e por isso, incompreensível. Ciências sociais ditas aplicadas enfocam na aplicação prática das teorias sociais e as ciências mais clássicas possuem maior densidade teórica.
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A comunicação e expressão recebeu tratamento imitativo das ciências naturais, em muitos casos com grande avanços. As artes, mais disperso, se encontram o estudo de todas as manifestações artísticas imagináveis.
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A filosofia recebe tratamento contraditório na universidade, sendo tolerada como propedêutica geral e/ou como teoria do conhecimento.
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O enfoque dado as ciências sociais não permite que estas sejam elevadas à modelo para ciências humanas, são apenas referencias principais.
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Algumas esferas admitem a permeabilidade das ciências sociais em maior ou menor grau, como a arquitetura.
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Nas ciências humanas há os que admitem maior ou menor grau de permeabilidade das ciências exatas e natu-rais, como na economia e a psicologia.

Particularidades das ciências humanas
e sociais

Se os pontos de partida são diversos, os resultados serão igualmente diversos. Não temos como provar cabal-mente que o objeto social é intrinsecamente diferente do natural.
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Vamos buscar, como ponto de partida, algumas linhas de reflexão que permitiriam aceitar diferenças irredutí-veis entre as esferas científicas em questão.
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Num primeiro momento podemos aduzir que o objeto das ciências sociais é histórico, na concepção de “estar” e não de “ser”, enquanto o outro é no máximo cronológico. Trata-se do “vir-a-ser”, do processo inacabado e inacabável, que admite sempre aperfeiçoamentos e superações.
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Realidades físicas são cronológicas, se desgastam, mas a identidade se dá na estabilidade. Realidades históricas tem sua identidade nas formas variáveis de sua transição, são fásicas, todas morrem.
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Num segundo momento, podemos aduzir o fenômeno particular da consciência histórica.
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Fazemos história, sem dúvida, mas com condições dadas, que geralmente são mais fortes que nossas ideias. A história acontece e pode ser feita acontecer, ser planejada conforme a realidade. Realidades materiais não tem consciência de si mesmas. A vontade própria, desde que exista, é uma diferença capital.
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Num terceiro momento, podemos aduzir a identidade entre sujeito e objeto, pelo menos em última instância. Estudar a sociedade é estudar a nós mesmos, as coisas que nos dizem respeito socialmente, diferente de estudar um cristal, ao qual não existe identidade social conosco.
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Tal identidade não precisa ser confusão ou excessivo envolvimento, mas tal envolvimento pode ser maior no caso dos objetos sociais.
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Num quarto momento, podemos aduzir o fato de que realidades sociais se manifestam de forma mais qualitati-vas do que quantitativas, dificultando procedimentos de manipulação exata, como a questão da democracia, um fenômeno com contornos voláteis, e da molécula da água, com maior precisão de constituição, tempo e espaço.
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A percepção de qualidade não deve ser desculpa para falta de rigor na análise, como se nas ciências sociais valesse a reflexão solta, confusa e mesmo disparatada. Como no caso da democracia, que pelo fato de não sabermos a medir diretamente não a faz menos relevante.
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Num quinto momento, podemos aduzir aquilo que julgamos ser a diferença mais profunda, ou seja, o caráter ideológico das ciências sociais.
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Ideologia é o modo como justificamos nossas posições políticas, nossos interesses sociais, nossos privilégios dentro da estratificação da sociedade, e assim por diante. É um fenômeno de justificação.
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Não parece haver ideologia numa molécula de água. Não obstante, pode-se fazer uso ideológico da física, com no caso da bomba atômica, um projeto ideológico usado para destruição e não para construção.
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É tão falso não vermos ideologia nas ciências naturais, quanto não reconhecermos a diferença entre ideologia intrínseca e extrínseca.
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Enquanto o cientista natural pode abstrair, pelo menos teoricamente, do uso que se fazer do conhecimento ge-rado, o cientista social que se coloque tal pretensão já nisto é ideológico, porquanto faz parte de suas ideologias mais baratas e pretensão de não ser ideológico.
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Não se ganha nada apenas imitando as ciências naturais; muito menos vale a pena “naturalizar” as ciências sociais.
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Num sexto momento, podemos aduzir, à sombra da última característica, a imbricação com a prática, para além da teoria. No caso das ciências naturais a questão da prática é extrínseca, porque aparece no uso que se faz do conhecimento, não no próprio conhecimento.
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Um químico pode estudar uma molécula apenas para acumular conhecimento, um sociólogo não consegue fazer isso, porque seu distanciamento para com a prática é apenas uma prática alienada.
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As ciências sociais refletem profundamente o roteiro histórico prático que vivemos através dos espaços e dos tempos.
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É incoerente para o sociólogo propor a revolução somente na teoria, para o psicólogo propor uma definição de normalidade psíquica que nada tenha a ver com a realidade, ou para o economista propor uma teoria do mercado que não seja o mercado real que vige na prática. Mas isto não obscurece seu envolvimento prático, mesmo na pretensa omissão.
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O cientista natural tem seu envolvimento inevitável como cidadão que é; mas isso não faz parte intrínseca de seu objeto de estudo, embora faça parte extrínseca. O cientista social tem tal imbricação no próprio objeto de estudo, com o qual em última instância se identifica.

O que é metodologia?

Metodologia é uma preocupação instrumental, pois trata dos caminhos para tratar a realidade teórica e prati-camente.
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O mais importante é chegarmos onde nos propomos chegar. A pergunta dos meios de como se chegar é especi-ficamente instrumental.
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É essencial entendermos a importância da metodologia para a formação do cientista, do seu espírito crítico, criatividade e potencialidade no espaço de trabalho.
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A ciência propõe-se a captar e manipular a realidade assim como ela é.
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A realidade já foi manipulada de inúmeras maneiras na história. Antigamente, os índios pretendiam captar a realidade através dos mitos.
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Posteriormente a função mítica foi superada em parte pela religião, que também trouxe sua explicação da rea-lidade.
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O que chamamos de ciência, de certa forma, quer substituir as crenças, porque não acredita em mitos, nem em religião como formas de explicação.
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A própria ideia de que as ciências sociais seriam inevitavelmente ideológicas pode interpretar-se como recaída em laivos míticos.
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O crédulo seria aquele que imagina não podermos libertar-nos de todo da ideologia, porque, se aí existe inge-nuidade, é pelo menos criticamente assumida.
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A racionalidade que a ciência gostaria de fundar é também um conceito ideológico, porquanto não pode ser definida fora de um contexto social dado.
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Em ciências sociais há uma gama variada e historicamente contextualizada de metodologias, a saber, empi-rismo, positivismo,, estruturalismo, funcionalismo, sistemismo e dialética.
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Neste trabalho se acentua a dialética em contraposição às outras metodologias.
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A metodologia pode ser vista basicamente em duas vertentes mais típicas: a derivada da teoria do conhecimento e a filiada à sociologia do conhecimento.
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O que realmente interessa é a pesquisa, a maior finalidade básica da ciência. Mais importante que botar defeito metodológico em tudo é fazer a pesquisa, ou seja, pôr-se à construção das ciências sociais.
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A ciência não é ensinada totalmente, porque não é apenas técnica. É igualmente uma arte. Quem segue exces-sivamente as técnicas, será por certo medíocre, porquanto onde há demasiada ordem, nada se cria.
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As sugestões metodológicas não devem passar à finalidade em si, exceto se for o caso de um metodólogo pro-fissional.

O que é pesquisa?

A atividade básica da ciência é a pesquisa.
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Pesquisa é a atividade científica pela qual descobrimos a realidade.
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A pesquisa é um fenômeno de aproximações sucessivas e nunca esgotado, não uma situação definitiva, diante da qual já não haveria o que descobrir.
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Classificação das quatro linhas básicas de pesquisa

PESQUISA TEÓRICA

É aquela que monta e desvenda quadros teóricos de referência.

PESQUISA METODOLÓGICA

É aquela que não se refere diretamente a realidade, mas aos instrumentos de captação
e manipulação dela.

PESQUISA EMPÍRICA

É aquela voltada sobre-tudo para a face expe-rimental e observável dos fenômenos.

PESQUISA PRÁTICA

É aquela que se faz através do teste prático de possíveis ideias ou posições teóricas.


Estas quatro formas de pesquisa não podem insinuar um esquema rígido. Têm mais a finalidade de não exclu-sivizar a pesquisa empírica. Por mais importante que esta seja, não é expressão única de descoberta de reali-dade.
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Se definimos pesquisa como o processo de descoberta científica da realidade, parece claro que existe por trás dela sempre algum projeto mais ou menos explícito de domínio do objeto. A ciência não trata qualquer coisa, trata principalmente o que interessa, ou seja, reflexo do poder e das necessidades sociais.

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